A pior crise hídrica dos últimos 91 anos, ocorrida em 2021, mostrou que o abastecimento de água potável, no Brasil, vai de encontro ao entendimento da maioria da população de que a água é um bem natural que não acaba nunca. Existe limite de oferta de água, sim. Uma das causas é justamente aquela verificada nos lares dos brasileiros, sobretudo, em condomínios residenciais. “Temos um grande problema de desperdício de água em condomínios porque, infelizmente, não cuidam disso”, diz a advogada especialista na área condominial, Patrícia Fruoso, do escritório Dutra e Fruoso Advogados, de Porto Alegre.
“Trata-se de uma questão ambiental que não pode ser negligenciada”, acrescenta Patricia que defende a obrigatoriedade do síndico transmitir informações aos moradores, dado que “as leis e regramentos mudam com o tempo e é preciso se manter atualizado”.
“O síndico precisa abarcar conhecimento para que ele possa transmitir aos moradores as formas de desperdício de água que precisam ser coibidas, tanto em nível residencial- banhos demorados, lavagens de roupas com água do tanque, entre outras- como em áreas comuns do condomínio, como lavagens de carros, por exemplo”.
Ela também defende o cuidado do sindico com o uso de água na higienização de calçadas, fachadas e áreas externas dos condomínios, em que uma das maiores causas é o uso desmedido de lavadoras. “Ao síndico, cabe se atualizar no uso de lavadoras mais avançadas que podem reduzir custos, ou mesmo por meio de terceirizados que podem oferecer maior economia”.
Fabiano Carvalho Dalla Porta, da Dalla Porta Consultores, que atua como auditor há cerca de 30 anos, é taxativo. “Não acredito que apenas com as normas do condomínio será possível cortar custos”. Em um conjunto de unidades residenciais, que formam um condomínio, não existem formas de aumentar a arrecadação a não ser com taxa condominial, diz Fabiano, chamando atenção que somente por meio da redução de despesas seria possível viabilizar receitas que irão permitir reservas para investimentos em melhorias e manutenção.
Como obter essas reservas? – pergunta Fabiano. “Pela redução de custos, em que os desperdícios de água são uma das principais causas “, reponde o auditor que defende um monitoramento financeiro das contas do condomínio, como forma de controlar as despesas. “É importante visualizar todas as despesas do processo na área financeira, como forma de reduzir custos”, defende.
Giselen Vargas, administradora de cerca de 30 condomínios, de Porto Alegre, lembra que em plena inundação de maio no Rio Grande do Sul, na maior calamidade da história do estado, ainda haviam pessoas que lavavam roupas mesmo com racionamento de água, um momento em que era mais do que necessário economizar água. Esse fato mostra que ainda falta conscientizar as pessoas sobre os esbanjamentos de água ou de energia elétrica, em plena era da crise climática.
“Somente quando dói no bolso é que a pessoa se dá conta que passou daquilo que imaginava que iria gastar”, afirma ela que destaca a legislação que determinou obrigatória a medição individualizada do consumo de água nas novas edificações condominiais de julho de 2016. “Nos condomínios mais antigos em que não há essa individualização, o bolso não dói; daí é que surgem os desperdícios, porque a conta é rateada e tudo continua igual”.
Para os condomínios ainda sem hidrômetros individuais, Giselen afirma que a saída é mesmo a educação ambiental. “ Hoje, as crianças tem muito mais consciência da questão ambiental que muitos adultos, porque aprendem no colégio”.
Já a instalação de hidrômetros individuais, ela estima um custo em torno de R$ 1.500,00, dependendo do fornecedor.
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, o consumo médio de água potável no Brasil é de 154 litros por pessoa por dia. No entanto, a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que o consumo seja de 110 litros por pessoa por dia.
Em 2021, o Brasil desperdiçou 3,8 bilhões de metros cúbicos de água por meio de vazamentos, o que seria suficiente para abastecer 67 milhões de brasileiros por um ano. Esse valor é mais do dobro do número de pessoas que não têm acesso à água potável no país, que é de 33 milhões.
A taxa de desperdício de água no Brasil é de 35%, o que é 20 pontos percentuais acima da média de 15% dos países desenvolvidos.
O papel do indivíduo no controle do desperdício de água em condomínios;
1. Conscientização:
- Compreender a importância da água: Cada indivíduo deve estar ciente da escassez hídrica e dos impactos ambientais do desperdício.
- Informar-se sobre as causas e consequências: É importante conhecer as principais causas do desperdício, como vazamentos, banhos prolongados e lavagens desnecessárias, e os impactos que isso gera para o meio ambiente e para a comunidade.
2. Atitude proativa:
- Denunciar vazamentos: Ao identificar vazamentos em áreas comuns ou em unidades individuais, o morador deve comunicar imediatamente ao síndico ou zelador.
- Adotar hábitos de economia: Reduzir o tempo de banho, fechar a torneira enquanto escova os dentes, utilizar a máquina de lavar roupas com carga completa e evitar o desperdício de água na limpeza são atitudes simples que fazem a diferença.
- Participar de ações de conscientização: Participar de campanhas e eventos promovidos pelo condomínio para incentivar a economia de água.
3. Pressão por mudanças:
- Cobrar ações do síndico: Os moradores devem cobrar do síndico medidas para reduzir o desperdício, como a instalação de hidrômetros individuais, a realização de manutenções preventivas nas instalações hidráulicas e a implementação de programas de educação ambiental.
- Participar das assembleias: Nas assembleias condominiais, os moradores devem participar ativamente das discussões sobre o tema e votar a favor de propostas que visem à economia de água.
4. Educação das futuras gerações:
- Ensinar as crianças: Pais e responsáveis devem ensinar as crianças sobre a importância da água e a necessidade de economizá-la desde cedo.